sexta-feira, 19 de junho de 2009

Breve conto

O gajo não vacilou. Sem a ajuda das mãos, subiu para a proa do barco e fitou a superfície espelhada daquele que seria o mais atraente dos mares onde já havia mergulhado. A sua cor azul-cobalto e a graciosidade da ondulação, sussurravam o seu nome e sorriam-lhe em gestos lentos e subtis, enquanto ele inspirava aquela brisa de um perfume tão perfeito, que sempre lhe fora proibido. O sol de verão acariciava o oceano em reflexos tão fortes, que impediam qualquer tipo de percepção visual abaixo da linha d’água, transformando assim o tão apetecido mergulho, num risco que tanto tinha de perigoso, como de misterioso e, por sua vez irrecusável. Apeteceu-lhe prolongar aquele momento durante duas eternidades, sentiu que o podia saborear por tempo indefinido, sem sentir o mais ínfimo dos enjoos ou a mais pequena das tonturas. Fazia agora 6 anos que ele se tinha apaixonado por todo aquele esplendor, todavia sem o poder tocar ou sequer cheirar, não era a altura e as consequências seriam drásticas, por motivos agora irrelevantes.

Flectiu as pernas e num impulso “catapultónico”, elevou-se durante milésimos de segundos no ar... Conseguiu sentir aquela húmida e amena massa oceânica percorrer todo o seu corpo, desde a ponta dos dedos, até ao último milímetro dos dedos dos pés, fundindo-se assim a um prazer sublime, que superava agora todas as suas expectativas. Era sem qualquer surpresa, melhor do que imaginara, aquela sensação da qual nunca tinha pensado poder vir a desfrutar. Descurou no entanto, a visibilidade que a luz do sol lhe havia negado anteriormente…



Por: Tiago Santos