quarta-feira, 16 de março de 2011

Grandiosidade

Batendo pesadamente as asas, arrastou o imenso corpo escamoso num movimento ascendente, desafiando a gravidade como sempre a sua fisionomia lho havia permitido. Planou através do ar gélido e cinzento rumo ao nada, sem qualquer plano ou necessidade por satisfazer, a tranquilidade da altitude e o vento que silvava cortado pelas afiadas extremidades da sua pesada mas nobre existência, ofereciam-lhe todo o conforto e paz de espírito que necessitava. Uns metros mais acima, o cinzento tornava-se agora azul, cores que separadas por uma definida linha de horizonte, pareciam estabelecer fronteira entre 2 mundos completamente distintos. O imponente globo estelar aquecia agora a sua espessa pele verde-acinzentada, à medida que com suaves pinceladas pintava de dourados, laranjas e amarelos, o denso manto de algodão que ilusoriamente se deslocava à sua passagem. Precisava agora de respirar fundo em terra firme e algum tempo passado, as asas são bruscamente recolhidas fazendo cair a pique o enorme animal que furava veemente através da imensa e branca muralha horizontal. Solo firme aproximava-se a uma velocidade estonteante, ameaçando de morte todo e qualquer outro ser…que não este! A poucos metros de um impossível impacto, a sua total envergadura é revelada perante o tempo que intimidado, parece agora congelar e delicadamente, as mortais garras abraçam o tronco da colossal árvore defunta que vergada perante a sua presença, lhe oferece poiso. Calmo e pensativo, vê agora a sua serenidade importunada por dois pequenos seres de feições rugosas, que vindos do nada gargalham irritantemente, enquanto apontam a ausência de um dos dedos da sua pata esquerda, fruto de uma das muitas guerras e obstáculos, vitoriosamente ultrapassados. A calma é-lhe devolvida, ao aperceber-se do quão facilmente poderia exterminar aquelas duas imprudentes formas de vida, com um simples e quente suspiro mas, nem vontade para tal existe… Recorda-se de tempos passados em que era humano mas desta vez, não sente o mínimo raio de nostalgia ou saudade, sente fome. Orgulhoso, ergue a sua superioridade rumo aos céus em busca de alimento, à medida que os risos se tornam confortavelmente mais distantes.

Por: Tiago Santos